Recentemente surgiu uma polêmica sobre o uso da Ivermectina no combate contra o novo coronavírus, o medicamento é um antiparasitário muito conhecido e utilizado pela medicina humana e veterinária.
Convidamos o Dr. Luiz Carlos, docente no Instituto de Química da Unicamp, para responder algumas questões sobre o assunto.
O que se sabe sobre a ação da ivermectina contra a Covid-19?
A ivermectina é um antiparasitário, muito usado para controle de piolho, pulgas e carrapatos em animais, incluindo seres humanos e algumas verminoses.
A dose recomendada, em geral, não ultrapassa 200 μg/kg, isto é, 200 microgramas por quilograma de peso corporal do paciente.
Nas doses recomendadas, o fármaco não chega no sistema nervoso central e é bem tolerado, relativamente seguro até.
A fama do medicamento de piolho nesta pandemia teve início com um estudo feito por pesquisadores da Monash University, na Austrália, que mostrou atividade viral in vitro, ou seja, em cultura de células.
As más notícias já começaram ali mesmo: a quantidade de medicamento necessária para inativar metade dos vírus presentes num tubo de ensaio, era enorme, correspondendo a uma verdadeira overdose.
Com base nisto, é indicado tomar ivermectina como precaução para a Covid-19 ou durante o tratamento?
Em uma publicação recente, pesquisadores calcularam qual seria a dose necessária para atingir a concentração, no sangue de uma pessoa, suficiente para haver ação antiviral como a vista na bancada do laboratório australiano.
Para chegar ao nível necessário, teríamos que usar 17 vezes a dose máxima segura para humanos, o que não é possível, pois a ivermectina se trata de um medicamento neurotóxico, isto é, um veneno para os nervos e o cérebro nessa dose tão alta. E na medicina, vale a máxima, “antes de curar, não pode causar dano”.
Além disso, a falsa sensação de segurança pode acometer os usuários do medicamento, levando ao relaxamento de medidas de contenção da disseminação do vírus, como o isolamento e distanciamento social, o uso de máscaras e cuidados de higiene.
A FDA, agência regulatória dos EUA, informou que não indica o uso da ivermectina para COVID-19. Mas foi válido investigar! Quem avaliou de forma correta, chegou à conclusão de que não funciona, infelizmente.
Atualmente, qualquer tratamento empírico com ivermectina ou sua inclusão em protocolos terapêuticos não é cientificamente justificável. Não tem efeito profilático e não deve ser usado sem recomendação médica para a COVID-19.
Que efeito uma pessoa que usar ivermectina pode esperar?
Na melhor das hipóteses, então, o único efeito direto da onda da ivermectina será uma população livre de vermes e piolhos. Corremos ainda o risco de, com o uso amplo e indiscriminado, selecionar piolhos resistentes ao medicamento.
Além dos dois estudos já comentados, o em tubo de ensaio e a crítica, foi publicado, também como preprint, um artigo que sugeriria forte eficácia da ivermectina como antiviral, em teste clínico em seres humanos. Entretanto, este trabalho foi declarado inválido. Curiosamente, ele foi feito com dados da empresa Surgisphere, a mesma empresa envolvida em escândalo de fraude em pesquisa publicada anteriormente na revista Lancet.
Referências :
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